INTRODUÇÃO
Em 2018 publiquei (aqui), o resultado da pesquisa cujo principal objetivo foi identificar, em linhas gerais, qual o perfil dos profissionais que atuam na área de assuntos regulatórios. Os resultados demonstraram o alto nível de qualificação desses profissionais, além das diversas áreas de formação. E os novos dados não são diferentes.
Uma área em crescente ascensão, assuntos regulatórios tem se tornado cada vez mais um caminho para profissionais que gostam de desafios.
Em linhas gerais, o profissional que atua na área de assuntos regulatórios prepara, analisa e renova a documentação legal da empresa para registro de produtos na ANVISA e outros órgãos reguladores, elaborando dossiês referentes ao registro, alterações e pós-registro para cumprir as exigências. Devido a constante renovação de nossa legislação, um dos grandes desafios do profissional dessa área é manter-se atualizado sobre tudo que está vigente e ainda ser capaz de filtrar o que pode realmente ter impacto para a empresa na qual trabalha. Ainda: com o processo consolidação e de amadurecimento das agências reguladoras, e ascensão de novas tecnologias, o profissional precisa cada vez mais desenvolver habilidades que ultrapassam questões relacionadas a manutenção dos registros de produtos.
Assim, cada vez mais a função do Executivo de Assuntos Regulatórios vem sendo demandada no que tange à análise de impacto normativo/regulatório, avaliação de riscos e cenários, bem como o monitoramento das principais discussões governamentais sobre o setor que representa, definindo a estratégia de ação e a melhor maneira de se comunicar com os órgãos reguladores. Dessa forma, o profissional assume uma posição estratégica na tomada de decisão, sempre com base em avaliação de risco.
Mas afinal, qual o perfil dos profissionais que atuam na área de assuntos regulatórios?
Metodologia da Pesquisa de 2019
A pesquisa realizada em 2018 sobre o perfil de profissionais da área de assuntos regulatórios serviu como referência na elaboração do questionário utilizado em 2019.
Assim como o trabalho anterior, o objetivo foi buscar informações a respeito da formação, experiência, remuneração e atuação dos profissionais, na forma de múltipla escolha. As opções de resposta davam oportunidade, ainda, para que o entrevistado pudesse incluir outras informações. O questionário “Survey Monkey” foi disponibilizado em plataforma de acesso público em internet e os entrevistados puderam acessar o material através do link divulgado em meu perfil aberto no LinkedIn. Não foi requerida qualquer identificação dos respondentes. Assim, as 7 perguntas foram respondidas online, de forma confidencial e voluntária. A amostragem contou com a participação de 196 profissionais, iniciada em 09/10/2019 e finalizada em 27/10/2019.
Perfil: tipo de instituição que trabalha
A grande maioria dos profissionais que responderam à pesquisa trabalha em empresas privadas (83%). A atuação se estende também em escritórios que prestam consultoria na área (9,2%), além de profissionais que atuam em associações ou sindicatos (3,6%). As atuações ocorrem, ainda, em menor escala, a profissionais que atuam em órgãos públicos, autônomos, empresas públicas ou sociedades de economia mista, além de profissionais em transição de carreira ou que não estão trabalhando no momento.
Em 2018 os resultados foram similares: 83% profissionais que responderam à pesquisa trabalhavam em empresas privadas, 8,8% em escritórios que prestam consultoria na área e 3% de profissionais que atuam de forma autônoma.
Formação: Graduação
A atividade demanda profissionais altamente especializados: em função da necessidade de estarem sempre atualizados em relação a novos regulamentos, tendências e olhar atento à inovação, a atividade requer profissionais atentos e curiosos. No entanto a pesquisa revela não somente o perfil de formação do profissional que atua na área como também o nível de qualificação, que buscar conhecimento em diversas áreas, tanto para complementar a formação quanto se especializando em áreas de demandas específicas.
As principais áreas de formação dos profissionais de Assuntos Regulatórios são em Farmácia (48,5%), Engenharia de Alimentos (17,9%) e Nutrição (7,1%). Também participaram da pesquisa profissionais das áreas de Ciência dos Alimentos (4,6%), Química Industrial/Alimentos (4,6%). Outras áreas de formação também foram citadas tais como Direito, Veterinária e Engenharia Química, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Biomedicina, Biologia, Administração e Comercio Exterior.
Em 2018, a maioria dos participantes também eram farmacêuticos, e em maior proporção (56%), em seguida os Engenheiros de Alimentos em menor proporção em relação a 2019 (8%), seguidos de veterinários (8%), que em 2019 já não aparece em terceiro lugar. O destaque em 2019 vem para a área de Nutrição e Ciências dos Alimentos, com maior numero de respondentes em relação a 2018.
Formação: pós-graduação
Os profissionais de Assuntos Regulatórios, assim como de Relações Governamentais, estão cada vez mais ganhando espaço no mundo corporativo, participando de decisões estratégicas nas empresas, assim como participando de forma ativa de definições que englobam mudanças importantes nos marcos regulatórios de diversos setores. Isso permite maior previsibilidade, planejamento e transparência para a atividade empresarial.
O alto grau de especialização do profissional de Assuntos Regulatórios reforça a tese de um profissional que não pode e nem deve parar de aprender: somente ¼ dos entrevistados não possuem nenhum tipo de pós-graduação, e esse número se repete em relação aos resultados de 2018. O principal destaque foi a pós graduação/mestrado na própria área de Assuntos Regulatórios, representando 19,8% dos respondentes, que mostra claramente o interesse do profissional em se aprofundar na própria área de atuação. Por outro lado, logo na sequência, a pós-graduação em Administração/MBA corresponde a 15,2% dos participantes, além de 5,1% que tem MBA em Gestão de Projetos, reforçando a tese do profissional ter interesse em complementar a formação técnica, ampliando conhecimento e a capacidade em assumir posições gerenciais. Ainda, 6,1% tem pós-graduação em Qualidade/Gestão da Qualidade, 5,1% dos respondentes tem pós-graduação ou mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos, e o mesmo número em Vigilância Sanitária (5,1%), ou seja, profissionais que também optaram por se aprofundarem mais na área técnica. Isso mostra a riqueza do profissional, que encontra oportunidades em todos os âmbitos de aplicação. Outras diversas formações complementares foram citadas pelos respondentes, tais como mestrado/pós-graduação em Engenharia de Alimentos (3,6%), Farmácia (2%), Cosmetologia (1%), além de outras áreas, em menor escala, como Toxicologia, Inovação, Marketing, Meio Ambiente, dentre outras.
Interessante ressaltar que o número de profissionais respondentes com pós-graduação/mestrado na área de Assuntos Regulatórios teve um aumento considerável em relação à pesquisa de 2018 mais do triplicando em quantidade: 6,4% (2018) x 19,8% (2019), especialmente em função da quantidade de respondentes em 2018 (171 no total, comparado aos 196 respondentes em 2019. Esse número pode ter aumentado devido ao aumento da oferta de cursos de pós-graduação na área de Assuntos Regulatórios: existem diversos cursos disponíveis no mercado para os profissionais que buscam especialização com foco na indústria de medicamentos e cosméticos. Na área de Alimentos, o instituto Mauá de Tecnologia foi pioneiro na elaboração de um curso específico, que pode ter contribuído em parte para a mudança dos perfis de especialização dos profissionais.
Em relação ao curso de Administração/MBA, o número se mantém como destaque, ainda que um pouco menor em relação ao anos anterior: 18% em 2018 x 15,2% em 2019. Vale ressaltar, ainda, que os profissionais da área de Assuntos Regulatórios atuam em diversos seguimentos da indústria, principalmente aos negócios mais sensíveis à regulação e ao controle estatal. No entanto, os setores específicos de atuação não foram considerados nesta pesquisa.
Qual o seu cargo?
As estruturas das equipes de Assuntos Regulatórios são altamente variadas e dependem da necessidade, da capacidade de cada empresa e de seus recursos. Também é comum que a empresa trabalhe com o apoio de uma consultoria externa na área de Assuntos Regulatórios, independentemente do porte da equipe interna. Isso amplia ainda mais o leque de atuação do profissional que atua na área.
As nomenclaturas em relação às posições e cargos podem variar de uma empresa a outra. No entanto, em geral, a porta de entrada do profissional de Assuntos Regulatórios é de Analista (ou mesmo como estagiário, quando ainda está em período de formação). Todas as posições na área exigem seriedade e muito comprometimento.
Assim como em 2018, em 2019 os analistas foram os principais dos respondentes da pesquisa (43,4%) %, seguidos dos gerentes (22,5%) e coordenadores (13,3%). Outras posições ocupadas por profissionais que participaram da pesquisa foram Especialistas (6,6%), Diretores (5,1%), Supervisores (3,6%), além de posições citadas de forma minoritária tais como sócios, proprietários, consultores e assistentes.
Remuneração salário mensal bruto (excluindo bônus e outros benefícios)
Área de assuntos regulatórios pode ser bastante atrativa do ponto de vista de remuneração e aparentemente sofreram um aumento expressivo em relação à pesquisa realizada em 2018. Foi considerado o valor do salário bruto mensal, excluindo potenciais bônus e outros benefícios.
A maioria dos respondentes recebe salários entre R$ 5 mil e R$ 8 mil (27,7%). Em 2018, a maioria dos respondentes (27%) apontava salários entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil e em 2019 essa porcentagem representa 19% da faixa dos profissionais respondentes. Ainda, 19,5% recebem R$ 5 mil e R$ 8 mil e 12,3% entre R$ 8 mil e R$ 12 mil.
O tempo de atuação na área é bem variado. A maioria dos respondentes atua entre 10-15 anos (17,9%) ou entre 3-5 anos, na mesma proporção. Também vale ressaltar o tempo de atuação de até 5 anos, totalizando quase 37%, representam grande parte dos profissionais que ocupam a posição de analista e assistente, e algumas de coordenador.
Assim como na pesquisa de 2018, em 2019 os analistas que participaram da pesquisa ganham salários entre R$ 2,5 e R$ 8 mil reais (84%), enquanto os coordenadores entre R$ 8mil e R$ 15mil (73%), um valor mais alto em relação a 2018, onde cerca de 72% dos coordenadores recebiam salários entre R$ 5mil e R$ 12mil. No caso dos Supervisores, a maioria dos respondentes recebem entre R$ 5 mil e R$ 12 mil reais, e os salários podem chegar até R$ 15mil reais. No caso do nível Gerencial, 45,5% dos respondentes recebem um salário similar ao de Supervisores (entre R$ 8mil e R$15mil), enquanto o restante dos entrevistados recebem um salário superior a R$ 20mil.
Ainda para o nível Gerencial, o percentual de profissionais que recebem salários mais altos aumentou em 2019 x 2018 em cerca de 50% do total para esta posição.
Relação do cargo na empresa x pós-graduação: quanto mais estudo, maior a ascensão profissional.
Para os profissionais da área de Assuntos Regulatórios, o investimento na formação parece estar relacionado diretamente à ascensão na carreira. Os dados de 2018 se repetem em 2019: cruzando os dados da pesquisa em relação ao cargo e profissionais com ou sem pós-graduação, observa-se que posições iniciais como de assistentes (5% para os que não têm pós-graduação), passam a não existir quando o profissional tem pós-graduação, assim como as posições de analistas (também inicio de carreira) migram para posições como coordenadores, supervisores, gerentes ou diretores, que aparecem em maior proporção para o profissional pós-graduado. Também importante mencionar que as posições iniciais de carreira são ocupadas muitas vezes por profissionais recém formados, ou seja, que ainda não tiveram tempo de especializar-se.
E quanto mais estudo, mais alto é o salário!
Nessa pesquisa realizada em 2019, que corroboram com os dados de 2018, as faixas de remuneração acima de R$30mil aparecem somente para profissionais pós-graduados. Ainda, observa-se aumento na porcentagem de profissionais com maiores salários que possuem pós-graduação.
Um maior nível de conhecimento/capacitação dos profissionais não é somente uma necessidade do ponto de vista de diferencial no mercado (considerando que investir na formação é uma prática comum entre ¾ dos profissionais entrevistados), mas também favorece o profissional na ascensão na carreira, com oportunidades de salários mais atrativos.
Sobre a Autora:
Dra. Tatiana Pires é Engenheira de Alimentos, Mestre e Doutora em Ciência dos Alimentos. Atualmente ocupa a posição de Diretora de Assuntos Regulatórios para a DSM Nutritional products na América Latina e também desempenha a função de Presidente da ABIAD, Associação Brasileira de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres. Também Coordena e Leciona no módulo de pós-graduação em Assuntos Regulatórios e Relações Governamentais da Escola de Engenharia Mauá, com foco na área de Alimentos, que faz parte da pós-graduação em Engenharia de Alimentos.
Dra. Tatiana Pires é Engenheira de Alimentos, Mestre e Doutora em Ciência dos Alimentos. Atualmente ocupa a posição de Diretora de Assuntos Regulatórios para a DSM Nutritional products na América Latina e também desempenha a função de Presidente da ABIAD, Associação Brasileira de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres. Também Coordena e Leciona no módulo de pós-graduação em Assuntos Regulatórios e Relações Governamentais da Escola de Engenharia Mauá, com foco na área de Alimentos, que faz parte da pós-graduação em Engenharia de Alimentos.
*Reprodução do Artigo original publicado no Linkedin, neste link.